As vivências do casal face à doença oncológica
Os
acontecimentos de vida catastróficos desafiam os processos de assimilação e
acomodação dos casais, como tal, até as relações românticas com bom
funcionamento podem ser afetadas quando enfrentam uma situação de doença
(Fergus, & Gray, 2009).
Assim,
como resultado do diagnóstico e tratamento de uma doença oncológica, os casais
enfrentam variados agentes stressores
designadamente a renegociação de papéis e das responsabilidades familiares, os
sentimentos de inquietação, um menor envolvimento sexual, um aumento da tensão
financeira e a presença de barreiras comunicativas e de pensamentos de perda,
morte e abandono. Note-se ainda que tanto os pacientes como os seus
companheiros relatam elevados níveis de angústia e de comorbilidade psicológica
em comparação com a população em geral (Fergus, & Gray, 2009; Northouse,
& Peters-Golden, 1993;
Northouse, Templin, Mood, & Oberst, 1998).
Deste
modo, é indispensável que o casal, conjuntamente, descubra qual a melhor forma
de enfrentar o stress e a sobrecarga.
Sendo que consideráveis evidências empíricas demonstram que uma comunicação
aberta e construtiva, caracterizada pelo conhecimento do problema e pela
partilha dos sentimentos mais profundos, envolvendo o parceiro nas discussões e
tomadas de decisão (active engaging),
fomenta a adaptação ao cancro e está associada a uma maior satisfação e
adaptação conjugal (Hagedoorn, Sanderman, Bolks, Tuinstra,
& Coyne, 2008).
Contrariamente,
não falar da experiência associada à doença e proteger o parceiro das
preocupações, escondendo-lhe problemas (protective
buffering), aumenta o risco de angústia e desgaste, estando associado a uma
menor satisfação relacional (Hagedoorn et al., 2008). Outra situação passível
de ocorrer é a inexistência de reciprocidade em relação à comunicação, ou seja,
somente um dos
membros do casal desejar comunicar com o outro sobre a doença oncológica, o que
poderá originar um problema de ajustamento entre a díade (Kornblith et al.,
2006).
Na
realidade, o modo como o casal enfrenta esta situação de crise está
determinada, em grande medida, pelo seu funcionamento anterior, ou seja, pela
qualidade da relação antes do diagnóstico da doença (Kornblith et al., 2006;
Manne, 1994). De salientar ainda que os conflitos/tensões
conjugais são indubitavelmente mais prejudiciais para a relação,
comparativamente com os benefícios resultantes das trocas de apoio (Fergus,
& Gray, 2009).
Pode-se então
concluir que a doença não é apenas uma ameaça ao bem-estar psicoemocional e
psicossexual do doente, na medida em que requer um grande ajustamento por parte
deste, do seu companheiro e do casal enquanto díade (Barradas, & Fradique,
2009).
Por Joana Teixeira
Estudante
do Mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde da Faculdade de Psicologia e de
Ciências da Educação da Universidade do Porto (estagiária curricular na Unidade
de Psico-Oncologia da Liga Portuguesa Contra o Cancro – Núcleo Regional do
Norte)
Referências Bibliográficas:
Barradas, S.,
& Fradique, F. (2009). Avaliação da
Qualidade de Vida e Ajustamento Diádico em Mulheres com Cancro Ginecológico e
de Mama. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Psicologia e de Ciências da
Educação da Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal.
Fergus, K. D., & Gray, R. E. (2009). Relationship vulnerabilities during
breast cancer: patient and partner perspectives. Psycho-Oncology, 18 (12), 1311-1322.
Hagedoorn, M., Sanderman, R., Bolks,
H. N., Tuinstra, J., & Coyne, J. C. (2008). Distress in couples coping with
cancer: A meta-analysis and critical review of role and gender effects. Psychological Bulletin, 134 (1), 1-30.
Kornblith, A., Regan, M., Kim, Y., Greer,
G., Parker, B., Bennet, S., & Winer, E. (2006). Cancer-related
communication between female patients and male partners scale: a pilot study. Psycho-Oncology,
15, 780-794.
Manne, S. (1994). Couples coping with cancer: Research
issues and recent findings. Journal of Clinical Psychology in Medical
Settings, 1 (4), 317-330.
Northouse, L. L., & Peters-Golden, H. (1993).
Cancer and the family: Strategies to assist spouses. Seminars in Oncology Nursing, 9, 74 - 82.
Northouse, L. L.,
Templin, T., Mood, D., & Oberst, M. (1998). Couples adjustment to breast
cancer and benign breast disease: A longitudinal analysis. Psycho-Oncology, 7,
37–48.