9 de abril de 2013


As vivências do casal face à doença oncológica                                                                 
Os acontecimentos de vida catastróficos desafiam os processos de assimilação e acomodação dos casais, como tal, até as relações românticas com bom funcionamento podem ser afetadas quando enfrentam uma situação de doença (Fergus, & Gray, 2009).
Assim, como resultado do diagnóstico e tratamento de uma doença oncológica, os casais enfrentam variados agentes stressores designadamente a renegociação de papéis e das responsabilidades familiares, os sentimentos de inquietação, um menor envolvimento sexual, um aumento da tensão financeira e a presença de barreiras comunicativas e de pensamentos de perda, morte e abandono. Note-se ainda que tanto os pacientes como os seus companheiros relatam elevados níveis de angústia e de comorbilidade psicológica em comparação com a população em geral (Fergus, & Gray, 2009; Northouse, & Peters-Golden, 1993; Northouse, Templin, Mood, & Oberst, 1998).
Deste modo, é indispensável que o casal, conjuntamente, descubra qual a melhor forma de enfrentar o stress e a sobrecarga. Sendo que consideráveis evidências empíricas demonstram que uma comunicação aberta e construtiva, caracterizada pelo conhecimento do problema e pela partilha dos sentimentos mais profundos, envolvendo o parceiro nas discussões e tomadas de decisão (active engaging), fomenta a adaptação ao cancro e está associada a uma maior satisfação e adaptação conjugal (Hagedoorn, Sanderman, Bolks, Tuinstra, & Coyne, 2008).
Contrariamente, não falar da experiência associada à doença e proteger o parceiro das preocupações, escondendo-lhe problemas (protective buffering), aumenta o risco de angústia e desgaste, estando associado a uma menor satisfação relacional (Hagedoorn et al., 2008). Outra situação passível de ocorrer é a inexistência de reciprocidade em relação à comunicação, ou seja, somente um dos membros do casal desejar comunicar com o outro sobre a doença oncológica, o que poderá originar um problema de ajustamento entre a díade (Kornblith et al., 2006).
Na realidade, o modo como o casal enfrenta esta situação de crise está determinada, em grande medida, pelo seu funcionamento anterior, ou seja, pela qualidade da relação antes do diagnóstico da doença (Kornblith et al., 2006; Manne, 1994). De salientar ainda que os conflitos/tensões conjugais são indubitavelmente mais prejudiciais para a relação, comparativamente com os benefícios resultantes das trocas de apoio (Fergus, & Gray, 2009).
Pode-se então concluir que a doença não é apenas uma ameaça ao bem-estar psicoemocional e psicossexual do doente, na medida em que requer um grande ajustamento por parte deste, do seu companheiro e do casal enquanto díade (Barradas, & Fradique, 2009).
Por Joana Teixeira 
Estudante do Mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (estagiária curricular na Unidade de Psico-Oncologia da Liga Portuguesa Contra o Cancro – Núcleo Regional do Norte)

Referências Bibliográficas:
Barradas, S., & Fradique, F. (2009). Avaliação da Qualidade de Vida e Ajustamento Diádico em Mulheres com Cancro Ginecológico e de Mama. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal.
Fergus, K. D., & Gray, R. E. (2009). Relationship vulnerabilities during breast cancer: patient and partner perspectives. Psycho-Oncology, 18 (12), 1311-1322.
Hagedoorn, M., Sanderman, R., Bolks, H. N., Tuinstra, J., & Coyne, J. C. (2008). Distress in couples coping with cancer: A meta-analysis and critical review of role and gender effects. Psychological Bulletin, 134 (1), 1-30.
Kornblith, A., Regan, M., Kim, Y., Greer, G., Parker, B., Bennet, S., & Winer, E. (2006). Cancer-related communication between female patients and male partners scale: a pilot study. Psycho-Oncology, 15, 780-794.
Manne, S. (1994). Couples coping with cancer: Research issues and recent findings. Journal of Clinical Psychology in Medical Settings, 1 (4), 317-330.
Northouse, L. L., & Peters-Golden, H. (1993). Cancer and the family: Strategies to assist spouses. Seminars in Oncology Nursing, 9, 74 - 82.
Northouse, L. L., Templin, T., Mood, D., & Oberst, M. (1998). Couples adjustment to breast cancer and benign breast disease: A longitudinal analysis. Psycho-Oncology, 7, 37–48.